Suicídio, ato que pede (e) fala

Falar sobre suicídio não é fácil, porque marca em nós algo que tem a ver com a falta, o vazio, uma hiância impossível de ser preenchida O suicídio é um ato que requer extrema coragem e que em sua conclusão deixa uma mensagem daquele sujeito.

O sujeito se torna responsável por todos os atos que realiza, porém podemos pensar que não atenua a responsabilidade dos outros, como os cuidadores. Os pais têm o dever de zelar pelos filhos, então podemos dizer que o ato de suicídio de um adolescente atribui responsabilidade aos pais?

O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) tem como uma de suas máximas: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Em casos de suicídio frequentemente são colocados como responsáveis os pais (cuidadores, família), no entanto devemos lembrar que os mesmos também têm suas questões, contingências que ocorreram ao longo da vida e que, numa suposição, levou ao descuido dos filhos. Porém também devemos observar por outro ponto de vista, para além de uma questão social e ou psicológica. A questão que o suicídio coloca é de difícil compreensão, pois afinal qual é o pedido que é feito? Será apenas um: “Não aguento mais essa vida?”, “Quero parar a dor?”. Evidente que estas falas não são menos importantes, mas o que não estamos escutando?

Parece que há uma epidemia de depressão e suicídio, podemos pensar que o uso das redes sociais dê mais visibilidade a tais ocorridos e escancare algo que sempre aconteceu e fora suprimido pela mídia, devido a questões éticas e políticas. Devemos refletir sobre o nosso papel em quanto participantes de um conjunto social, ou seja, a responsabilidade nesse sentido não seria só dos pais ou familiares, mas sim como está no ECA, da comunidade e sociedade em geral.

Atualmente, há uma problemática do laço social, os vínculos estão fragilizados e as pessoas em sua singularidade aparentam se transformar em um grande negócio privado, que agora só importa o lucro de/para si. Nesse sentido, onde há espaço para o outro? Quem vai escutar? Como tratamos as pessoas em nosso entorno?

Para concluir, o suicídio não é um assunto simples, não há uma cartilha que diga como agir, mas temos alguns indícios de como não agir. Para nos auxiliar nessa reflexão segue a transcrição de um trecho do vídeo de Christian Dunker, intitulado: A clínica lacaniana e a demanda suicida.

“… e penso que há algo decisivo em torno dessa decisão, dessa prática, que é que ela vem acompanhada de um processo de palavra. Você que pensa em suicídio, falar, falar antes, falar com calma, de preferência para alguém que não vai te julgar e também para alguém que não vai dizer assim: a vida é boa, a vida é bela, há sentido em tudo.”